V º Simpósio de URGENCI : Monterey, Califórnia, Estados Unidos, janeiro de 2013

Boletim Internacional de Desenvolvimento Local Sustentável Boletim Informativo nº 96

Jocelyn Parot, Yvon Poirier, março 2013

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V º Simpósio de URGENCI : Monterey, Califórnia, Estados Unidos, janeiro de 2013

Por Jocelyn Parot

URGENCI, a rede internacional da Agricultura apoiada pela comunidade (ASC), alcançou uma nova etapa de maturidade, durante seu V º Simpósio bianual, que aconteceu de 20 a 23 de janeiro de 2013, em Monterey, na Califórnia. Os três primeiros colóquios tinham acontecido na Europa – Aubagne, França (2004 e 2008) e Palmela, Portugal (2005). Depois URGENCI organizara com sucesso a primeira conferência internacional ASC fora da Europa, em Kobé, no Japão, em 2010. Habitualmente, o Japão é considerado como o berço das parcerias locais e solidárias entre produtores e consumidores (Teikei). Três anos mais adiante, a conferência internacional de URGENCI aconteceu nos Estados Unidos, outro bastião do movimento.

A contribuição de URGENCI ao movimento americano das ASC

O movimento americano das ASC conhece nos dias atuais uma nova fase, depois de um início muito rápido nos meados dos anos 1980. Dizer que há mais de 6.000 ASC em nível nacional (de acordo com as estimativas de Steve McFadden), ou até mais de 12.500 produtores agrícolas que comercializam sua produção sob forma de cestos (conforme estimativas do ministério da agricultura dos Estados Unidos datando de 2010), não é pertinente. Melhor seria entender, como observa Steve McFadden, que as ASC nos Estados Unidos estão “numa virada decisiva. Será que vão se tornar apenas um “business model” a mais, ou seja, a troca de dinheiro contra alimentos? Ou então, as ASC vão conseguir realizar seu potencial ideal: o de se tornar um modelo para parcerias mais justas (social), mais resilientes (ambiental) e mais solidárias (econômico)?”

Será que os sistemas de cestos de escala muito grande colocam em perigo o conceito de PLS? Quem está apto a defender os princípios da Agricultura sustentada pela Comunidade? Qual é o papel das redes locais para garantir a ética dos novos modelos de ASC? Será que um ASC em que se associam vários produtores é simplesmente um novo tipo de cooperativa alimentar?

Estas questões estiveram no cerne das numerosas conversas que aconteceram durante as visitas das fazendas no dia 22 de janeiro e durante as discussões e debates da Conferência internacional no dia 23. A presença de agricultores e consumidores vindos de outros horizontes (outros Estados americanos e outros continentes) foi certamente benéfica para todos os participantes, pois estas questões são recorrentes em todos os lugares onde a prática das ASC é solidamente amarrada. Alguns movimentos bem estabelecidos já adquiriram uma experiência preciosa para esclarecer diferentemente (não para resolver) essas delicadas questões. Os participantes locais – na sua maioria camponeses da agricultura orgânica – gostaram desta forma de compartilhar com seus colegas estrangeiros.

Esta conferência internacional sobre a Agricultura Sustentada pela Comunidade teve por resultado imediato a instalação de uma coalizão estadunidense das ASC, e a prefiguração de uma rede californiana das ASC. Isto graças ao forte envolvimento da organização CAFF (Community Alliance for Family Farmers, Aliança comunitária para os pequenos produtores), que co-organizou a conferência com URGENCI. As duas estruturas têm em comum colocar a parceria solidária entre consumidores e produtores no cerne de suas ações. Portanto, é ao mesmo tempo em nível local e nacional que os participantes na conferência internacional marcaram época!

Um resultado importante: a nova articulação da rede em grupos regionais

Os dois dias precedendo a conferência e as visitas de fazendas, 25 representantes do movimento da Agricultura Sustentada pela Comunidade de todas as partes do mundo se encontraram durante a Assembleia Geral da rede para definir e elaborar um plano de ação para os dois próximos anos. Pela primeira vez, os membros de URGENCI redigiram planos de ação concretos a serem implementados nos cinco continentes, com responsáveis de grupos regionais encarregados de sua realização!

Shinji Hashimoto (Japão) e Joy Daniel (Índia), dois membros da Ásia do Comitê internacional de Urgenci durante as visitas de fazendas

A nova Comissão internacional, que compreende oito pessoas, conta agora um membro da América latina; e três enviados especiais, com funções específicas.

Elizabeth Henderson, autora do famoso manual Sharing the harvest (Repartindo a colheita) que inspirou toda uma geração de agricultores e consumidores em toda parte no mundo aceitou generosamente assumir a Presidência de Honra de URGENCI. Elizabeth é uma agricultora aposentada, engajada há muito tempo nas lutas para mais justiça social e apaixonada pela ASC de que ela é uma ardente embaixadora. Trata-se de um justo reconhecimento de sua contribuição à URGENCI, e uma chance para nossa rede de contar com ela oficialmente entre nós. Foi também decidido que o próximo simpósio de URGENCI acontecerá na China em 2015.

Artigo original em inglês traduzido em francês por Morgane Iserte.

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Para uma microfinança solidária?

Por Yvon Poirier

O microcrédito se tornou desde faz alguns anos, sobretudo desde a atribuição do Prêmio Nobel a Muhammad Yunus em 2008, uma atividade muito difundida em todos os continentes. De acordo com os promotores do microcrédito, ele deveria ser a ferramenta permitindo ajudar as pessoas a sair da pobreza, em especial as mulheres. Ora, uma constatação se impõe cada vez mais, a saber, que não somente não é uma panaceia, mas que em muitos casos, investidores se enriquecem junto aos pobres, e que seu endividamento aumenta.

O ano passado, Milford Bateman apresentava durante uma conferência no Canadá um resumo da tese defendida em seu livro Why doesn’t microfinance work (Por que a micro finança não funciona) publicado em 20101. O subtítulo do volume é revelador de sua posição: o aumento destrutivo do neoliberalismo local. Ele explica que, em muitos casos se não na maioria dos casos, trata-se de armadilhas da pobreza. Escândalos na Índia, com métodos de cobrança de tipo mafioso (chegando a provocar suicídios) são muito nocivos. Além disso, ele indica que ele é cada vez menos considerado como ferramenta de desenvolvimento, e que grandes instituições como o Banco Mundial não fazem mais a sua promoção. Embora este livro provoque uma forte polêmica ele tem como mérito colocar o dedo sobre problemas que já evocamos neste boletim.

O modelo dominante se baseou principalmente numa oferta de crédito vindo de instituições externas, com a anuência de um prêmio Nobel. Ora, outros optaram por implantar instituições para e pelas próprias populações. Assim, quando o quadro jurídico toma a forma ajuda mútua/cooperativista na qual os clientes são membros, e, portanto, associados à governança, as respostas são verdadeiramente adaptadas às necessidades das populações concernidas. Eis um resumo rápido de duas iniciativas deste tipo.

Fundada em 2006, a Caixa de poupança e crédito do setor pesqueiro na Guiné (MÉCRÉPAG) é o resultado de uma associação com a União nacional dos pescadores artesanais da Guiné. Em poucos anos, a MÉCRÉPAG dispõe de cinco caixas locais, contando em 2012 com mais de 10 000 membros individuais, dos quais cerca de 65% são mulheres. Os créditos concedidos permitem aos pescadores equiparem os barcos de motores de popa, às mulheres defumarem o peixe, ou então comprarem ou venderem nos mercados. Além disso, formações tanto sobre a gestão de cooperativas locais, a salubridade, a gestão dos empréstimos, etc. são oferecidas aos membros. As caixas locais, e a própria caixa central são governadas por pessoas eleitas em assembleia pelos membros.

Durante uma visita no Canadá em novembro de 2012, Yvon Poirier, Gérald Arsenault e Robert Gallant da Cooperativa de pescadores a Acadiana, Sra.Fatoumata Barry da MÉCREPAG

No Canadá, o microcrédito está presente na maioria das regiões faz uns vinte anos. Até o momento, as organizações de microcrédito eram estruturadas no modo de organismo sem fins lucrativos. Após quinze anos de atividade, percebendo os limites deste modelo, o Fundo de Empréstimo Quebeque (localizado na Cidade de Quebeque), decidiu se transformar em caixa de poupança e crédito mútuos para oferecer empréstimos às populações menos favorecidas, mas igualmente poupança e micro-seguro. Assim o Fundo de empréstimo de Quebeque, uma organização relativamente pequena, desenvolveu um projeto de lei que foi adotado pela Assembleia nacional do Quebeque em dezembro de 2012. A nova Caixa de microfinança (Quebeque) é a primeira no Canadá. Na nova organização, os clientes vão se tornar membros e vão poder eleger representantes no Conselho de administração e votar nas Assembleias gerais, o que não era facultado antes.

Embora os contextos socioeconômicos sejam muito diferentes, esses dois exemplos ilustram que é possível criar instituições por e para as pessoas concernidas, e que, além disso, elas podem participar da gestão de sua instituição. É uma alternativa ao microcrédito, que, na maioria dos países do mundo é proposta por organizações externas à comunidade, e não depende portanto das próprias comunidades.

Em francês

web.fonds-emprunt.qc.ca/

Webinar FR-EN

ccednet-rcdec.ca/fr/node/11500

ccednet-rcdec.ca/en/node/11543

Fontes :

Boletim Internacional de Desenvolvimento Local Sustentável Boletim Informativo nº 96