O desenvolvimento da autonomia coletiva em empreendimentos de economia solidária

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Curso de Ciências Sociais: Bacharelado

Thales Speroni Pereira da Cruz,, 2009

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Compendio :

Com as transformações ocorridas no mundo do trabalho a partir do final do século XX que levaram a uma intensificação da precarização do trabalho e o aumento do desemprego, as alternativas de geração de emprego e renda, sobretudo as que buscam efetivar-se por meio da autogestão, possuem grande relevância. Nesse sentido, o presente estudo problematiza o desenvolvimento da autonomia coletiva em empreendimentos de econômica solidária. Entende-se que este processo é composto por duas dimensões dialeticamente relacionadas: a das práticas, que se refere à forma como o empreendimento organiza seu cotidiano por meio de procedimentos e normas, e a da experiência (THOMPSON, 1981), noção que alude à forma como os sujeitos vivem as relações sociais (sobretudo laborais) que estão inseridos e que pode servir de parâmetro para ações futuras. Sendo assim, esta pesquisa busca responder o seguinte problema: qual a capacidade dos empreendimentos de economia solidária em constituir práticas de forma autônoma que tenham o potencial de estabelecer uma contestação do trabalhador aos valores internalizados durante sua trajetória ocupacional como assalariado? Denominam-se enquanto indicadores contingentes os elementos que têm capacidade de influência positiva e/ou negativa no desenvolvimento da autonomia coletiva: o processo de trabalho, a relação com agentes externos, a divisão dos ganhos, o processo decisório e o histórico ocupacional. A fim de responder o problema proposto, identificando a atuação dos indicadores contingentes, realizaram-se dois estudos de caso: um em uma cooperativa de confecção de Porto Alegre (Brasil) e outro em uma cooperativa de serviços sociais de Bilbao (Espanha). Foram feitas entrevistas em profundidade, análise documental e de discurso e observação sistemática do cotidiano de trabalho. Os empreendimentos mostraram-se viáveis economicamente, com metas de diversificação da produção, apesar do caso espanhol demonstrar forte dependência de recursos governamentais. Detectou-se nesse estudo, a dificuldade dos empreendimentos em superar o modo de encarar o trabalho internalizado durante a experiência assalariada, o que leva a uma conduta passiva dos trabalhadores em relação à participação nas decisões das cooperativas. Foram identificados como elementos que tendem a reforçar esta situação: a divisão de ganhos por produção individual, a inexistência ou fragilidade de um plano de formação, o distanciamento entre o cotidiano de trabalho e os espaços de participação, a contratação de assalariados e um modo de operação do poder por gestão de quadros.

Fonti :

Repositorio cientifico de acesso abierto de Portugal

Repositorio digital UFGRS