Os riscos do empreendedorismo: a proposta de educação e formação empreendedora.

São Paulo : Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2008. Dissertação de Mestrado em Educação.

Aguinaldo Luiz de Lima, 2008

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Summary :

Esta pesquisa tem como objetivo estudar as origens, os fundamentos e as condições favoráveis à disseminação do empreendedorismo no Brasil através de políticas sociais e educacionais e demonstrar como ele foi mitificado com a promessa de compensar os perdedores da globalização, analisando os riscos que isto representa, em particular para os trabalhadores pobres na ampliação de sua vulnerabilidade. Utilizamos como referência deste estudo a década de 1990, período de elevado desemprego e informalidade, resultado da adoção de políticas econômicas neoliberais e que trouxe graves conseqüências para o mercado de trabalho brasileiro, mas que permitiram a criação de um ambiente favorável ao discurso do empreendedorismo, onde diante das discussões sobre desemprego e informalidade no mercado de trabalho, a conversão de trabalhadores empobrecidos em empreendedores, foi apresentado como possibilidade de ajustamento à nova realidade de diminuição de empregos assalariados. Considerando que o empreendedorismo foi concebido no campo teórico da administração de empresas capitalistas, optou-se por utilizar neste estudo a definição de Hisrich; Peters (2004), que abordam o empreendedorismo como um processo individual, de criar algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as conseqüentes recompensas da satisfação econômica e pessoal. Na revisão bibliografica e documental foram analisados publicações e documentos, que difundem a idéia do empreendedorismo como algo novo, resultado de uma suposta concepção moderna, que responderia aos atuais desafios sociais no campo do trabalho e do desenvolvimento. Os resultados da análise revelaram que a defesa do empreendedorismo, como alternativa aos perdedores da globalização, mostra a intenção de propagar a mensagem, que trabalhadores desempregados e informais, são desajustados que precisam se ajustar, e que ganhadores são empreendedores, dispostos a riscos financeiros, psicológicos e sociais. Não é possível falar de riscos sem falar de vulnerabilidade, mas, o empreendedorismo desconsidera as condições socioeconômicas como fatores de risco e ignora a condição de vulnerabilidade dos trabalhadores empobrecidos. Conclui-se que a disseminação dos valores do empreendedorismo, que transfere ao indivíduo a responsabilidade pelo seu sucesso ou fracasso econômico, amplia o grau de vulnerabilidade que os trabalhadores empobrecidos já estão expostos e obscurece as alternativas concretas de mudanças estruturais, que possam efetivamente beneficiar esses trabalhadores. Cabe o desafio de enfrentar a proposta de educação e formação empreendedora a partir da formulação de alternativas econômicas concretas de caráter não capitalista, fundamentada nos princípios da economia solidária, propondo uma educação autogestionária e estabelecendo novas práticas educativas baseadas em valores solidários e de ajuda mútua.