Redes de Colaboração Solidária – Aspectos econômico-fílosóficos: complexidade e libertação

Editora Vozes, Brasil, 2002

O rápido crescimento internacional das redes solidárias e de seu poder de atuação nos campos da economia, política e cultura é um dos fenômenos marcantes da última década. Este crescimento se firma qualitativamente no projeto de construção de uma globalização solidária, com valores contrapostos aos da globalização capitalista em curso. Mais do que uma eficiente estratégia organizativa de empresas, de entidades civis ou de movimentos sociais, essas redes emergem como atores coletivos que estão construindo um novo contrato social, que exige a justa distribuição da riqueza produzida coletivamente, o respeito ao equilíbrio dos ecossistemas e à diversidade de culturas que promovam simultaneamente as liberdades públicas e pessoais, a convivência pacífica entre os povos e um tratamento adequado às diversas questões levantadas pelos movimentos sociais-populares, em prol do bem viver de todas as pessoas. A pujança dos Fóruns Sociais Mundiais e a eficiente interligação virtual dessas redes solidárias, sinalizam perspectivas promissoras.

Quando compreendemos essa dinâmica das redes solidárias sob a abordagem complexa de uma filosofia da libertação, percebemos que a riqueza em germinação nesse processo tanto pode desabrochar quanto fenecer, dependendo dos rumos coletivos que sejam estabelecidos a essa mesma transformação. Cabe pois uma reflexão cuidadosa e abrangente dessa revolução das redes, apontando como a colaboração solidária entre as diversas redes, organizações sócio-políticas, empresas e pessoas pode engendrar sociedades melhores, de caráter pós-capitalista. Cabe explicitar o paradigma desde o qual compreendemos essa revolução e que é recursivamente transformado por ela mesma. Cabe responder às objeções levantadas à colaboração solidária como uma estratégia de transformação local e global, apontar mecanismos econômicos e políticos adequados ao seu avanço, bem como considerar os seus atuais desafios. Cabe-nos a responsabilidade, como cidadãos e cidadãs, de construirmos novas relações humanas, mais livres e solidárias, colaborando de maneira pessoal e coletiva na transformação, para melhor, do mundo em que vivemos.