Saúde mental e economia solidária : trabalho como dispositivo de autonomia, rede social e inclusão

Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica e Cultura)—Universidade de Brasília, Brasília,

Milena Leal Pacheco, fevereiro 2014

Resumo :

Este estudo investigou os sentidos e as repercussões do trabalho cooperativo e solidário na ampliação e no fortalecimento da autonomia, da rede social e da inclusão de pessoas com a experiência do sofrimento psíquico, que vivem em situação de desvantagem social. Além disso, identificou as possibilidades e os limites da Política Nacional de Saúde Mental e Economia Solidária. Participaram do estudo treze usuários-trabalhadores e cinco profissionais que atuam em oficinas de trabalho de um serviço da rede de atenção psicossocial do município de Porto Alegre (RS). Como instrumentos para coleta de dados, utilizaram-se observação de campo, entrevistas individuais semiestruturadas com profissionais e usuáriostrabalhadores e grupo focal com usuários-trabalhadores. O material empírico foi examinado com base na análise de conteúdo temática e nos pressupostos teóricos da desinstitucionalização, da reabilitação psicossocial e da Economia Solidária. Os achados mostram que o trabalho cooperativo e solidário atua como um potente dispositivo para a ampliação e o fortalecimento do poder contratual, da autonomia, das redes sociais e da inclusão social dos usuários-trabalhadores. A instituição ocupa um lugar estratégico na rede substitutiva do município e na vida dos participantes, que ganha sentidos, aprendizados e mudanças. Contudo, as fragilidades nos marcos conceitual e jurídico e nas políticas públicas de Saúde Mental e de Economia Solidária atravessam o cotidiano da experiência e trazem desafios para o campo como a necessidade do incremento da renda, a melhora das condições de vida dos usuários-trabalhadores, a conquista de um novo marco legal para o cooperativismo social, a participação de outros atores e instituições nas experiências, entre outros. Esses desafios são revertidos em novas possibilidades com a participação e o protagonismo dos usuários-trabalhadores nos espaços coletivos de reflexão, avaliação e tomada de decisão do serviço, dos fóruns e das lojas da Economia Solidária. Tais espaços contribuem para a ressignificação e a (re)invenção de práticas e possibilitam que os usuários se (re)conheçam e sejam (re)conhecidos também como trabalhadores.

Fontes :

Repositorio Institucional Universidade de Brasilia repositorio.unb.br/handle/10482/15182